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"VAMOS FAZER UMA MERDA, UM DISCO SÓ PRA GENTE"

Tudo ao Mesmo Tempo Agora, disco em que os Titãs decidiram “esmerdalhar”, faz 30 anos. E é muito mais do que catarro, peido e amor escatológico. Seria uma boa vingança de quem não teve coragem de assumir em público que detestou as colagens eletrônicas de Õ Blésq Blom (1989)?

“Depois do Õ Blésq Blom, ficamos cansados de toda a parafernália eletrônica tão presente no som desde Cabeça Dinossauro e resolvemos ir para um caminho de maior crueza, voltar ao básico do rock’n’roll”. É como Nando Reis explica as intenções de Tudo ao Mesmo Tempo Agora, sétimo disco dos Titãs, em vídeo publicado no YouTube em abril deste ano. O disco chegou às lojas há exatos 30 anos, numa segunda-feira, 23 de setembro de 1991. No mesmo dia de Trompe Le Monde, dos Pixies, e Screamadelica, do Primal Scream, e um dia antes do lançamento de Nevermind, do Nirvana, que fez a indústria do disco coçar a cabeça e se perguntar “o que tá acontecendo com o adolescente?”. E que botou o barulho e a delinquência juvenil de volta no topo das paradas, nas listas dos mais vendidos e na tela da MTV no mundo todo.

Parece que o bode de ter de tocar toda noite, por um ano e meio, um disco com a assinatura de Liminha, produtor do disco antecessor (e Cabeça Dinossauro, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas e Go Back), cheio de loops, instrumentos recortados e programações, bateu pesado quando a banda encerrou a longa excursão de 500 shows de Õ Blésq Blom. O ponto final aconteceu em janeiro de 1991, no palco do Rock in Rio, em um Maracanã lotado. E o erro de Arnaldo Antunes em “Comida” — ele atravessa a música cantando parte da letra no compasso errado e as câmeras flagram a reação dos outros membros da banda ao perceberem o erro — simboliza o cansaço da longa turnê que a banda encarou divulgando o disco.

Pouca gente acreditava no rock brasileiro no início da década de 90. As duplas sertanejas, vitoriosas com a eleição de Fernando Collor à presidência da República em 1989, a lambada, o axé music e o pagode paulista já substituíam o rock na programação das FMs mais populares e na preferência de boa parte do público. E caras como os Titãs, ali pela casa dos 29, 30 anos, pareciam dinossauros cansados, tiozões tentando soar modernos pra uma mídia que não estava mais interessada neles.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agora que agora é nunca

Em Dias de Luta (2002), livro de Ricardo Alexandre sobre o rock brasileiro dos anos 80, Sergio Britto deixa claro que a banda estava de saco cheio de ser/ter de soar gigante, de descascar toda noite o ‘puta som’ que o produtor Liminha imprimiu ao disco, perfeito, cheio de teclados, samples, repleto de referências que vão de Prince e Sly and Robbie à música regional pernambucana, com tudo absolutamente no lugar, sem arestas. “Foi um negócio tipo ‘vamos mandar pra puta que pariu essa parafernália eletrônica, a crítica, a mídia, namoradas, tudo, e vamos voltar a curtir’”. Charles Gavin é ainda mais honesto e afirma que a banda não fazia ideia de como queria soar. E que sem produtor — Liminha estava nos Estados Unidos e não gostou de saber que a banda faria o disco sem ele, conta Nando via YouTube –, o caos se instaurou: “oito malucos soltos no pasto, cada um com uma ideia, sem ninguém pra falar ‘olha, vocês estão loucos’”.

Também a Ricardo Alexandre, Branco Mello vai além. “Acionamos o foda-se e decidimos fazer um disco sozinhos, do jeito que quiséssemos, nos aventuramos, pegar todo mundo de surpresa, esmerdalhar”. Mas a confiança — ou o fracasso, alguém diria — subiu à cabeça, confessa. E aí, pintou uma ideia do tipo “foda-se, vamos fazer uma merda, um disco só para a gente. Foi uma ‘rasteira’ radical demais”, avalia.

Capa e encarte são do artista plástico Fernando Zariff (morto em dezembro de 2010). A colagem com imagens de órgãos do corpo humano encontradas nas antigas enciclopédias Barsa e os crânios radiografados de Arnaldo Antunes, Branco Mello e Paulo Miklos (as chapas foram batidas no consultório do pai de Miklos, dentista, na Praça da Sé, centro de São Paulo) atendem à estética pensada pela banda para o disco. Algo que se perde, nesse e numa infinidade de outros discos, com o streaming.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Saia de mim como um peido

Para apoiar o disco, a banda contou com um documentário de pouco mais de meia hora feito como que para defender o álbum. Produzido pela Conspiração Filmes e pensado para a MTV, o filme dirigido por Arthur Fontes saiu também em VHS. No vídeo de pouco mais de meia hora, os oito integrantes justificam o LP como a realização de um desejo unânime de (voltar a) soar como uma banda de rock.

A banda optou pela casa de Marcelo Fromer, na rua Pombal, bairro do Sumaré, zona oeste de São Paulo. Era março de 1991, e o imóvel estava vazio por estar em reforma. Lá, empilharam amplificadores e passaram dias ensurdecendo uns aos outros na composição das 15 faixas que foram para o disco. Sem Liminha por perto. “A gente não estava arranjando músicas de um repertório previamente escolhido”, explica Nando no VHS. “A gente estava simultaneamente compondo, arranjando, projetando a maneira como a gente ia gravar o disco”.

Filmado quase todo em preto e branco, o documentário oferece uma espécie de iconografia do rock — close em garrafas de Jack Daniel’s sobre os amplificadores, cigarros e equipamentos espalhados  — numa tentativa de imprimir de novo a imagem roqueira que parecia ter ficado lá em 1986, em Cabeça Dinossauro

“Nesse disco já teve, desde o começo, toda uma vontade de a gente tocar junto”, explica Tony Belloto no vídeo, “uma coisa que a gente tinha, nos últimos LPs, perdido um pouco de vista, que é captar a emoção como se fosse ao vivo, no palco, a gente tocando de verdade; um olhando pra cara do outro, tocando. E a gente estava com vontade de optar mais por um som básico, de rock, onde sobressairiam mais as guitarras, a bateria acústica, o baixo”.

O documentário mostra a banda no processo de criação do disco, discutindo arranjos, tocando num volume ensurdecedor e explicando para um entrevistador que não aparece as motivações que levaram a Tudo… No filme, estão trechos de algumas versões diferentes das músicas do LP. Na casa de Fromer, tocam “Filantrópico” repetindo por três vezes o refrão “acumulando raiva e rancor”; no disco, cantam o verso apenas duas vezes. “Clitóris”, faixa que abre o álbum com microfonias que os irmãos Jim e William Reid aprovariam, é flagrada em seu processo de concepção. Gavin toca um 4x4 bate-estaca acompanhando Paulo Miklos, como quem tenta entender primeiro o ritmo que o vocalista empreende à letra de Nando Reis. Em “Eu não sei fazer música”, Belloto toca, na introdução, um riff diferente do que foi para o disco.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tudo ao Mesmo Tempo Agora seria a vingança de quem não teve coragem de assumir em público que, no fundo, detestou as colagens eletrônicas de Liminha no disco anterior? Britto deu a letra a Ricardo Alexandre ao dizer que a banda queria mesmo era mandar pro cacete aquele emaranhado de teclados e programações de Õ Blésq Blom. Belloto revela, também no documentário, que a profusão de guitarras foi algo catártico para ele, mero coadjuvante em alguns dos discos anteriores.

À Bizz, dois meses após o lançamento do disco, Gavin recorda: “Gravar Õ Blésq Blom foi extremamente cansativo, com muitas partes gravadas em separado. Só depois, tocando ao vivo, é que a gente foi descobrir que não gostava de algumas músicas”. À Folha de S.Paulo, em agosto de 1997, Belloto voltou à carga: “Em Õ Blésq Blom eu me sentia pouco representado. Tinha umas coisas eletrônicas que não me davam barato, pois sempre tive uma formação mais roqueira”.

Eu não sei fazer música, mas eu faço

Com as músicas compostas, a banda alugou em junho uma casa na rua da Invernada, na Granja Viana, área nobre nos limites da zona oeste da cidade, conhecida pelos condomínios caros e administrada pelo município vizinho de Cotia. Com uma unidade móvel de estúdio para as gravações, levou a cabo a ideia de um disco barulhento, ruidoso, incômodo, “de sonoridade mais ardida”, no adjetivo de Britto. Nada do ecletismo nem do som perfeito do disco anterior. Mais que uma resposta à crítica e aos fãs — que compraram mais de 400 mil cópias de Õ Blésq BlomTudo ao Mesmo Tempo Agora era como um dedo do meio à ideia de disco pop pós-moderno pra FM de Liminha.

Mas o dedo do meio baixou logo. Depois de Titanomaquia (1993), com Jack Endino no lugar de Liminha e a estética grunge de ocasião no lugar da sujeira e do foda-se-todo-mundo, veio Domingo (1995, também com Endino) e a vontade de voltar ao dial e aos programas de TV. Acústico MTV, de 1997, trouxe Liminha de volta, vendeu 720 mil cópias (“disco é pura concessão”, disparou Pedro Alexandre Sanches na Folha de S.Paulo, em crítica ao álbum) e provavelmente pagou todas as contas que a banda possa ter atrasado por causa de Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Que vendeu mais de 100 mil unidades e garantiu disco de ouro. A aposta no barulho e nos palavrões talvez não tenha sido tão equivocada quanto pareceu à crítica, pelo menos sob o ponto de vista do público. E o disco tem virtudes que se perderam na nuvem de escatologia que poluiu a visão dos resenhistas três décadas atrás.
 

“Gravar Õ Blésq Blom foi extremamente cansativo, com muitas partes gravadas em separado. Só depois, tocando ao vivo, é que a gente foi descobrir que não gostava de algumas músicas”

 

Nervo, músculo e osso

A crítica ralhou. A mesma Bizz, que em 1989 chamou Õ Blésq Blom de obra de arte e “o ‘estado de maioridade’ que o rock’n’roll brasileiro vinha esperando toda esta década” (José Augusto Lemos), dois anos depois deu uma boa marretada no cocuruto da banda ao definir, em resenha conjunta com Os Grãos, do Paralamas do Sucesso que, com os álbuns, o rock brasileiro “esticava as canelas” (André Forastieri). Na Ilustrada, o crítico Mário Cesar Carvalho escreveu, no domingo anterior ao desembarque do disco nas lojas, que os Titãs usavam a escatologia em manifesto de reinvenção. Mas que ao abusar de palavras como esporro, pus, catarro, peido, clitóris, e de versos como “amor, eu quero te ver cagar” (“Isso para mim é perfume”), soterravam qualquer tentativa de convencimento sobre a mudança. E apontava semelhanças entre os riffs iniciais de “Não é por não falar” e “Jumpin’ Jack Flash”, dos Rolling Stones.

No Estadão, Marcel Plasse foi mais duro. “Tudo ao Mesmo Tempo Agora é pior disco do grupo pós-Cabeça Dinossauro”, assinou. “’Saia de Mim’”, a faixa de trabalho, é o anti-hit por definição. As crianças vão achar engraçadinhos os palavrões — inócuos como nas canções do Ultraje a Rigor — os programadores de rádio e TV, nem tanto”. E lembra que a TV Globo vetou a exibição do videoclipe da música no Fantástico. Dois anos antes, o programa exibiu o vídeo de “Flores”. “Letras ocas, que ecoam eca”, detonou, depois de destacar que as músicas são assinadas coletivamente.

Plasse escreve que “Não é por não falar” tem “levada funky honesta”. A pisada de bola — não há nada menos funk do que a música — não passou despercebida pela banda. A Alex Antunes, em entrevista publicada pela Bizz em novembro daquele ano, Sergio Britto devolveu: “quem escreveu que ‘Não é por não falar’ é um funk é um ignorante”, sem citar o nome do algoz. “Ou dizer que a introdução dessa música é igual a ‘Jumpin’ Jack Flash’? É que chegou a hora em que isso tinha que acontecer. Essa coisa de a gente virar unanimidade de público, de crítica, de fulano namorar não sei quem, de os poetas concretistas considerarem a banda… isso gera um incômodo, um ‘vão pra puta que os pariu’”, ataca.

“A mesma leviandade que tinham no elogio têm agora, ao falar mal”, analisou, na mesma entrevista, Arnaldo Antunes, que deixou o grupo ao final da turnê do disco. “A crítica foi sempre meio estúpida”. “’Isso para mim é perfume’ tem esse lado bizarro, grotesco”, explicou Britto, “e ao mesmo tempo é uma canção de amor. São nuances de leitura, mas os caras pararam na palavra ‘cagar’”.

Isso para mim é garboso

As letras foram a vidraça que a imprensa encontrou pra arrebentar a fachada até então cristalina dos Titãs. Se contavam até o momento com o “aval da crítica, do público e do Caetano”, como diria Britto, não houve artista consagrado suficiente para evitar a surra que a banda tomou por versos como “em cada berço que esse esperma espesso inunda/em cada fosso que esse gozo grosso surja”, de “Clitóris”; “saia de mim vomitado, expelido, exorcizado/tudo o que está estagnado/saia de mim como escarro, espirro, pus, porra, sarro, sangue, lágrima, catarro”, de “Saia de Mim”(música de trabalho do disco); “isso para mim é enfeite/a cabeça do pau faz esporra de leite/ pra tomar de manhã, no café da manhã (…) amor, eu quero te ver cagar”, de “Isso para mim é perfume”, a mais condenada delas. Parceria com Marcelo Fromer, Nando Reis explica (?!), 30 anos depois, as intenções da letra.

“Erraram eles ou erramos nós”, pergunta Alex Antunes no texto que introduz a entrevista. Em duas páginas, o crítico deu voz aos oito integrantes, que aproveitaram o espaço pra reclamar da crítica e acrescentar explicações sobre o disco.

Uma coisa de cada vez

Se o disco anterior era eclético, misturando eletrônica a sons orgânicos, Tudo… vai em única direção. Canções pesadas e esporros de guitarra tiveram espaço nos álbuns anteriores, mas dividiam os sulcos do LP com reggaes, levadas funky e algumas experiências eletrônica mais discretas. Tudo ao Mesmo Tempo Agora é diferente. Em riffs rústicos, baterias densas e teclados com intervenções a favor do barulho, o álbum revela seu RG logo de cara. Busca o estrondo como artifício estético (e acerta na maioria das vezes) e a marginalidade, quase como um deboche ao mainstream do qual faziam parte. Canções como “Já”, “Agora”, “Eu vezes eu” somam as guitarras que Belloto e Fromer tanto desejavam jogar na cara do ouvinte a camadas de teclados escritas para serem o contraponto em meio ao emaranhado de ruído. Arnaldo mostra que não havia perdido a mão para composições — “Já” e “Agora” são bons exemplos; a segunda ganhou versão de Maria Bethânia.

Os riffs repetidos ao longo de faixas como “O fácil é o certo” e “Cabeça” renderam uma história curiosa, contada por Jefferson de Souza, que por anos foi repórter e crítico de música do Caderno 2, do Estadão. Em conversa com a banda logo após o lançamento do álbum, Jefferson contou a alguns dos Titãs que a repetição de linhas de guitarra fez com que ele se lembrasse da banda inglesa Loop. Dias depois, ao ir a uma loja de discos frequentada por Charles Gavin, soube por um dos vendedores que o álbum da banda britânica à disposição na loja havia sido comprado pelo baterista.

Aleatoriamente ou não, Tudo ao Mesmo Tempo Agora atendeu ao espírito do tempo. Ganhou vida em um ano que contou não só com o lançamento de Nevermind, mas também de Green Mind, do Dinosaur Jr. (fevereiro), Gish, do Smashing Pumpkins (maio), Every Good Boy Deserves Fugde, do Mudhoney (julho), Ten, do Pearl Jam, e Metallica (o Black Album), do Metallica (agosto), Trompe Le Monde, dos Pixies, e Secreamadelica, do Primal Scream, no mesmo dia, Blood Sugar Sex Magic, do Red Hot Chilli Peppers um dia depois, e Bandwagonesque, do Teenage Fanclub (novembro). Havia no ar uma atmosfera favorável às guitarras mais ásperas, às microfonias, a um jeito desleixado de tocar e a uma estética que ganhou o rótulo de rock alternativo — o grunge no meio disso.

De saco cheio da farofada do hair metal de Los Angeles, a molecada representada no vídeo de “Smells Like Teen Spirit” queria tocar o terror no ginásio da escola, sacudir franjas em clubes minúsculos e fazer crowdsurfing nos festivais de verão. O som pesado, rústico e manhoso das guitarras nem sempre bem afinadas daquele jeito de fazer rock e uma certa afronta a quem achava que aquilo tudo era barulho, e não música, compunham a trilha sonora que eles procuravam.

Na Bizz, Gavin citou Mudhoney e Tad como parâmetros de mixagem. Tony reclamou da falta de cultura roqueira no país, e Fromer acompanhou: “o problema é que quando um cara não sabe que foi uma opção estética nossa, ele confunde com barulho”. Em Dias de Luta, Britto afirma que, naquele momento, os oito estavam mais interessados em bandas independentes do que em colegas do pop.

 

A sua casa já desmoronou no meio da sala?

A estreia do disco na TV, ao vivo pro país inteiro, aconteceu no Programa Livre, de Serginho Groisman, no SBT, naquele mesmo ano. Diário, repetia a fórmula do programa anterior de Serginho, o Matéria Prima, na TV Cultura. Pra dar à banda a oportunidade de mostrar todo o arsenal barulhento que havia impresso em Tudo ao Mesmo Tempo Agora, o programa se dividiu em duas partes de uma hora cada.

Na TV, nada dos Titãs coloridos dos anos anteriores. O figurino era predominante preto, branco e cinza. Um crânio repousava sobre um dos amplificadores Marshall, icônicos, que compunham o palco em que os oito se espremiam. Se a Globo vetou a exibição do vídeo de “Saia de Mim” pelos palavrões, no SBT não teve arrego. A banda tocou essa e as demais canções, incluindo a toda escatológica “Isso para mim é perfume”, no volume mais alto possível.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“A gente experimentou essa coisa eletrônica no ‘Comida’ (sic), no Cabeça Dinossauro em algumas faixas (…) a gente chegou no máximo no ‘Miséria’ (sic), no Õ Blésq Blom, que é um disco que tem uma coisa bem mesclada entre a coisa eletrônica e a coisa tocada, e acho que dessa vez a gente decidiu fazer a coisa que a gente gosta de fazer ao vivo, tocar todo mundo junto sem nada eletrônico”, respondeu Branco à pergunta de um garoto da plateia. “Isso fez com que a gente pesasse mais no som”.

Mas a estreia pra valer, diante de uma plateia maior se deu na edição do Hollywood Rock, em fevereiro de 1992. EMF e Jesus Jones eram os nomes mais frescos do festival, que aconteceu na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, e no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Em seu canal no YouTube, Nando Reis conta que a recepção da plateia paulista ao repertório de Tudo ao Mesmo Tempo Agora não foi como imaginavam.

“A reação da plateia foi péssima”, recorda. “[Na verdade] Não houve reação. Estavam esperando só os hits e a gente tocou 12 músicas que ninguém tinha ouvido. Isso foi já o prenúncio daquilo que também passou a ser a nossa relação com o público”. Ele defende que o boicote sofrido por rádios se refletiu na audiência e em um momento que passaram a tocar pra públicos menores. “Eram só homens, a maioria de camiseta preta”. E lembra de uma história ocorrida no interior de São Paulo: ao entrarem no palco, foram alvejados com um coelho morto. “Foi assustador”.

Bem humorado ao falar do disco que confessa ser seu preferido dos Titãs, Nando lembra de uma critica de Camilo Rocha, publicada também na revista Bizz, sobre um show da turnê de Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Em seu blog em 2009, o próprio Camilo se divertiu com a história. “Eu mesmo descobri outro dia que os Titãs nunca se esqueceram de uma resenha que fiz para a Bizz, em 1992, onde falei que sua performance num show tinha sido ‘murcha como um palhaço desdentado’ (eita analogia esquisita, quero crer que hoje aprendi a escrever um pouco melhor)”.

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