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"QUERO GANHAR TANTO DINHEIRO QUANTO O PHIL COLLINS." William Reid

"[...] Amo o fato de que o livro seja publicado no Brasil, por causa das minhas boas lembranças dos show aí em 1990. E também porque o novo presidente do seu país é tão idiota que eu espero que a leitura deste livro possa alegrar as pessoas por alguns dias. Então, pode ser que elas considerem seriamente a ideia de tirar Bolsonaro do poder na próxima eleição.

 

[...] foi duro ter deixado o grupo. Na época das gravações do Automatic, eu já estava fazendo vídeos, então acho que todos nós sabíamos que era hora de seguir em frente. Ainda assim, foi como se eu estivesse perdendo o amor da minha vida. E ver a banda pela primeira vez com outro baixista foi como ver o amor da sua vida beijando outro homem!"

Trecho do prefácio exclusivo de Douglas Hart à edição brasileira de Barbed Wire Kisses, a história do Jesus and Mary Chain, de Zoë Howe

Um pedal de guitarra quebrado e o mundo pop nunca mais seria o mesmo. Um ruído ensurdecedor gerado por uma caixinha de metal conectada a uma guitarra, uma timidez no limite da fobia social e a adoração ao Velvet Underground e ao pop do produtor Phil Spector arranharam feito arame farpado a pele pálida das paradas musicais inglesas dos anos 80, sob o nome sacana de Jesus and Mary Chain. Depois deles, tocar guitarra da maneira errada se tornou, pra muita gente, uma virtude.

Barbed Wire Kisses, a história do Jesus and Mary Chain, de Zoë Howe, conta a saga ímpar de uma banda formada por dois irmãos antissociais e um amigo em uma cidade pequena e sem graça da Escócia chamada East Kilbride. Entre fugir de delinquentes pelas ruas e tomar ácido pra matar o tédio, os irmãos Jim e William Reid mais Douglas Hart criaram uma fórmula capaz de subverter a ordem do rock pomposo que infestava as FMs que eles tanto desprezavam. Enveloparam melodias pop com distorção e microfonia e toparam o desafio de levar isso aos palcos, no distante 1984.

A execução dessa fórmula no volume máximo e com o desleixo e a arrogância necessários pra tamanha audácia – Hart tocava um baixo com apenas duas cordas – transformou os primeiros shows em celebrações do caos e da violência, e fez ruir a empáfia dos críticos ingleses. Psychocandy, primeiro álbum, lançado em novembro de 1985, deixou os semanários musicais ingleses de joelhos e é item obrigatório em qualquer coleção de discos de rock minimamente séria.

Zoë penetrou no mundo quase indecifrável dos irmãos Reid, ouviu as principais figuras que orbitaram ao redor de Jim e William desde 1983, quando a semente do Jesus and Mary Chain começou a germinar, e apresenta a história de uma banda que tinha tudo pra dar errado, mas que se tornou um dos nomes mais influentes do rock desde o lançamento do primeiro single, “Upside Down”, um ano antes do debut em LP, pela mítica Creation Records, de Alan McGee – a mesma que descobriu, na metade dos anos 90, outros dois irmãos-problema, Noel e Liam Gallagher, e com eles saiu da falência.

Das fotos “ao vivo” fabricadas dentro do quarto dos Reid pós-adolescentes aos problemas enfrentados no festival itinerante Lollapalooza em 1992; do enfrentamento a hooligans nos primeiros shows pela Inglaterra em 1984 à ressaca encarada durante a participação no programa do apresentador David Letterman, também em 1992, da briga e separação no palco do House of Blues, em Los Angeles, em 1998, à volta arrebatadora da banda, em abril de 2007, no palco do festival Coachella, acompanhados pela atriz Scarlett Johansson, Zoë não poupa ninguém nem deixa de fora histórias que teriam potencial pra arrasar a reputação de qualquer outra banda – não a do Mary Chain.

Ao se apropriar do título de uma das principais coletâneas de lados B da banda, Barbed Wire Kisses (B-sides & more), lançada em 1988, a autora revela a mistura da agressão e candura – psycho e candy – que encharca a música produzida pelos irmãos Reid e sustenta a trajetória da banda dentro e fora dos palcos. A edição brasileira conta com prefácio exclusivo assinado por Douglas Hart.

Barbed Wire Kisses – a história do Jesus and Mary Chain

por Zoë Howe

tradução: Letícia Lopes Ferreira

Formato: 160 x 230

348 páginas

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